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Estudo inédito define áreas afetadas por hipertensão e ligadas a demência

Reprodução - Revista Galileu
29/03/2023
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Ressonâncias magnéticas e dados genéticos revelaram regiões cerebrais que podem ser alvo de terapias, ajudando a identificar pessoas em risco de declínio cognitivo

Na imagem: Reconstrução 3D mostra como alta pressão arterial sistólica afetou os principais tratos da substância branca no cérebro. O vermelho mostra áreas mais afetadas, enquanto o amarelo revela regiões atingidas em menor grau - Imagem: Lorenzo Carnevale, IRCCS INM Neuromed, Pozzilli, Itália
 
Utilizando dados de ressonância magnética cerebral de milhares de pessoas, pesquisadores identificaram nove regiões do cérebro afetadas pela pressão alta que podem contribuir para o desenvolvimento da demência.
 
Os resultados foram publicados nesta terça-feira (27) no periódico European Heart Journal. Os pesquisadores consultaram informações de ressonâncias de 30 mil participantes do banco de dados Biobank, no Reino Unido.
 
A equipe também considerou dados genéticos de estudos do mesmo acervo e de dois outros grupos internacionais (COGENT e International Consortium for Blood Pressure). Então, as descobertas foram verificadas em um grande grupo separado de pacientes hipertensos na Itália.
 
Usando esta combinação de imagens, abordagens genéticas e observacionais, identificamos partes específicas do cérebro que são afetadas por aumentos na pressão sanguínea, incluindo áreas chamadas de putâmen e regiões específicas da substância branca”, conta Tomasz Guzik, Professor de Medicina Cardiovascular na Universidade de Edimburgo, que liderou a pesquisa, em comunicado.
 
Conforme o cientista, a equipe acredita que essas áreas podem ser onde a pressão alta afeta a função cognitiva, como perda de memória, habilidades de pensamento e demência. Já se sabia que a hipertensão podia estar envolvida neste declínio geral das habilidades cerebrais, contudo, esta é a primeira vez que os locais no cérebro afetados são identificados.
 
Para melhor analisarem os dados, os cientistas aplicaram uma técnica chamada randomização mendeliana, que testa se algo está potencialmente causando um determinado efeito ou se não se trata apenas de coincidência.
 
Ela funciona usando a informação genética de uma pessoa para ver se existe uma relação entre os genes que predispõem a uma pressão arterial mais alta e os resultados”, detalha Guzik. “Se houver uma relação, é mais provável que a pressão alta esteja causando o resultado.
 
Entre as nove partes cerebrais apontadas pelo estudo, está o putâmen, uma estrutura redonda na base da frente do cérebro, responsável por regular o movimento e influenciar vários tipos de aprendizagem.
 
Outros locais afetados foram três áreas da substância branca que conectam e permitem a sinalização entre diferentes partes do cérebro. Estas são: a radiação talâmica anterior (envolvida no planejamento de tarefas diárias); a corona radiata anterior e o ramo anterior da cápsula interna, duas regiões relacionadas a tomada de decisões e gerenciamento das emoções.
 
Além disso, os cientistas notaram que a pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) podem ter possíveis efeitos distintos. A PAD sozinha não prediz um declínio na função cognitiva, mas, na verdade, é protetora quando ajustada pela PAS — as razões disso estão agora passando a ser discutidas.
 
Apesar de algumas limitações do estudo, como participação principalmente de pessoas brancas e de meia-idade, os pesquisadores esperam que sua descoberta possa ajudar a identificar pessoas em risco de declínio cognitivo nos estágios iniciais, podendo direcionar terapias com maior eficácia.
 
Estudar os genes e as proteínas nessas estruturas cerebrais pode nos ajudar a entender como a pressão alta afeta o cérebro e causa problemas cognitivos. Além disso, observando essas regiões específicas do cérebro, podemos prever quem desenvolverá perda de memória e demência mais rapidamente no contexto da pressão alta”, afirma Guzik.