CRÔNICAS DE UM MORIBUNDO

Livro fala do que as pessoas sentem e do que mais se arrependem antes de morrer

Liubov Kurianova/Rádio Voz da Russia
15/10/2013
CRÔNICAS DE UM MORIBUNDO

Diante da morte, a maioria das pessoas não sente falta de relações sexuais, muito menos reclama por não ter pulado de paraquedas ao longo de sua vida ou realizado o que parecia ser um grande sonho. No leito de morte, surgem recordações do passado e sentimentos de arrependimento muito mais significativos. Pelo menos é isso o que diz o livro The Top Five Regrets of the Dying: A Life Transformed by the Dearly Departing ("Os cinco maiores arrependimentos antes da morte", em tradução livre), da ex-enfermeira australiana Bronie Ware.

"As pessoas amadurecem muito quando precisam enfrentar a própria mortalidade. Cada pessoa experimenta uma série de emoções, como é esperado, que inclui negação, medo, arrependimento, mais negação e, em algum momento, aceitação", revela Ware. A enfermeira garante que cada um dos pacientes que tratou "encontrou sua paz antes de partir".

Durante alguns anos, a autora trabalhou numa seção de terapia paliativa, prestando cuidados aos pacientes nas últimas doze semanas da vida. Na obra, Ware destaca os “fluxos de consciência fenomenais” que as pessoas costumam sentir na etapa final da vida.

A grande maioria dos que estão à beira da morte lamenta por ter trabalhado demais. “Claro que os homens dedicam a maior parte da sua vida ao trabalho ativo e ao sucesso. Avaliando o passado, reconhecem ter perdido muita coisa na vida pessoal, relações com amigos e familiares. Alguém lamenta “não ter visto o primeiro passo dado pelo filho”, ou “não ter ouvido a primeira palavra por ele pronunciada” ou ter tido “pouco convívio com a mulher”. Por isso, nos últimos momentos da vida, o homem, já ciente da morte inevitável, começa a lamentar as oportunidades perdidas”, defende a psicóloga Daria Vassilenko.

Na ótica de Bronnie Ware, não raramente, as pessoas lamentam pela falta de coragem para confiar em si mesmas e não seguir exemplos de outros. “A maioria não pode concretizar nem metade de seus sonhos mais desejados e entendem, na reta final, que teve seu livre arbítrio comprometido por opção”, assinala.

Segundo o livro, as pessoas sentem, no fim da vida, não ter tido coragem o suficiente para exprimir seus sentimentos. Confessam ainda não ter valorizado as relações de amizade. Isso se manifesta como mágoa e aflição.

Um dos arrependimentos mais amargos é a renúncia aos caminhos que levassem à felicidade. “Muitos não chegaram a compreender que a felicidade tinha mais a ver com a liberdade de escolha”, constata Wane.

O moribundo é capaz de pensar muito sobre o papel da arte e da fé, independentemente de ser ou não ser crente, afirma o chefe do Departamento de Pesquisas Socioculturais do Centro Levada, Alexei Levinsson. “Tive de lidar com pessoas que sofriam de graves doenças oncológicas sem cura e nenhuma chance de sobreviver. Falei com pessoas doentes de AIDS que estavam cientes da inevitabilidade da morte, razão pela qual tinham invertido o sistema de valores e prioridades. Eles chegam a entender a importância dos valores eternos como o amor, a arte e as reflexões sobre a alma humana e a vida em geral”.

Segundo pesquisas sociológicas apontadas na obra, apenas 20% das pessoas que estão prestes a morrer lamentam terem deixado um patrimônio pequeno.

Para não completar essas estatísticas num tom triste e tentar ir ao encontro da morte sem grandes pesares, vale lembrar que a vida se associa à liberdade de opção. Optem, pois, pela felicidade e tentem viver cada dia como se fosse o último na vida.