EVOLUÇÃO

Digitalização da Radiologia reduziu poluição do meio ambiente

Larissa Lins e Naum Carlos
28/06/2018
EVOLUÇÃO

5 de junho é a data marcada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o dia mundial do meio ambiente. Desde a sua instituição, em 1972, o assunto tem ganhado mais relevância, principalmente por causa dos efeitos gerados pelo aquecimento global e pela contaminação de diversos biomas e ecossistemas pelo lixo produzido pela humanidade. Para a radiologia, a preservação da natureza ganha importância quando falamos do descarte de material altamente tóxico resultante dos processos de revelação de imagens e dos resíduos radioativos dos aparelhos de exame. A evolução da tecnologia tem ajudado bastante na redução da produção de lixo tóxico.
 
Antes da era digital e dos processadores, a produção das imagens era feita manualmente. O profissional mesmo que mergulhava as películas no revelador, na água e então no fixador e as prendia no varal para secar. Além de ser mais demorado, o método também exigia o descarte desses químicos, sobretudo o revelador, que não é reaproveitável. Do fixador, podia-se retirar a prata, presente na composição do líquido, bem como das películas.
 
“Quando não se tinha uma empresa contratada para coletar os químicos apropriadamente, eles eram jogados diretamente no ralo mesmo”, lembra Abel dos Santos, técnico há 27 anos e diretor tesoureiro do Conselho Nacional de Técnicos e Tecnólogos em Radiologia (CONTER). O paranaense ainda recorda do desconforto em fazer todo o processo em uma sala escura e das roupas manchadas pelo revelador.
 
Com o advento dos processadores, a produção das imagens ficaram mais rápidas, mas ainda assim permanecia o problema do descarte dos químicos, que ainda eram usados no processo. “Já na era digital, as imagens vão direto para a tela do computador e o único resíduo gerado é o filme do exame”, conta Abel.
 
O acidente de Goiânia
De acordo com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), foi o segundo maior acidente radioativo da história e o mais grave ocorrido fora de usinas nucleares. Acontecido em Goiânia, em setembro de 1987, o evento acendeu a luz para a discussão acerca do descarte de resíduos radiológicos. O desastre ocorreu após alguns catadores desmontarem um aparelho de radioterapia abandonado e venderem as peças para uma sucata.  A ampola contendo cloreto de césio (césio 137) foi aberta e deixou um rastro de contaminação pela cidade.
 
112,8 mil pessoas passaram a ser monitoradas e 6 mil toneladas de material contaminada, como roupas, móveis e até casas inteiras demolidas, foram enclausurados em um depósito especial, localizado em Abadiânia de Goiás. Oficialmente, quatro pessoas morreram devido ao acidente, mas, de acordo com a Associação de Vítimas do Césio 137, esse número chega a 80.  
 
Passados 30 anos, 975 pessoas ainda são monitoradas pela Superintendência Leide das Neves (SuLeide), instituição que presta assistência às vítimas. Dessas, 87 fazem parte do grupo que ainda inspira mais preocupação, que são as pessoas que tiveram contato direto com o pó brilhante de césio 137 e os seus filhos.
 
O acidente de Goiânia ilustra bem o quão importante é pensar em maneiras adequadas de descartar o lixo produzido, sobretudo aqueles que têm alto poder de contaminação, como é o caso do cloreto de césio, que até hoje causa apreensão na área e nas pessoas que viveram o incidente.