DESCULPE O TRANSTORNO

Precisamos falar de proteção radiológica

Jônathas Oliveira/Assim CONTER
15/09/2016
DESCULPE O TRANSTORNO

Conhecemos ela ainda nos primeiros semestres. Essa frase pode parecer comum para os profissionais e estudantes das técnicas radiológicas, mas o termo ainda é banalizado na prestação de serviço em hospitais, unidades de saúde e áreas de radioinspeção de segurança. A proteção radiológica fala por si só e nunca vamos esquecer: resguarda a sociedade e os técnicos/tecnólogos em Radiologia das radiações ionizantes, respeitando os princípios de justificação, otimização e limitação de doses.

Quando os três princípios eram explicados, as doses efetivas e equivalentes eram aprendidas. Quando estudávamos grandezas e unidades, a física era o caminho para entendê-la. Quando aprendemos sobre blindagem e tempo de exposição à radiação, entendemos como planejar e desenvolver um atendimento humanizado e seguro às pessoas. Sempre com a devida consciência dos efeitos biológicos que a radiação desenvolve no organismo e de que, às vezes, as pessoas não fazem ideia de como o câncer está ligado a isso. Foi paixão à primeira vista, para mais de 107 mil profissionais legalmente habilitados no país.

Passamos algumas madrugadas juntos por meio de literaturas como Bontrager. De lá passamos a conhecer a realidade por meio dos estágios. Dos estágios para os cursos de capacitação. Dos cursos para os congressos. Dos congressos para o mercado de trabalho. Cada um na sua própria luta e trajetória, assim como foi no início da nossa história.

Começamos a namorar no início do curso. Ela que despertou interesse das pessoas desde a descoberta dos raios X em 1895 em nós, que somos de todas as idades e espalhados mundo afora. Para nós da Radiologia, parecia que a vida começava ali. Vimos profissionais que andavam de jaleco na rua de forma errada, vimos outros que negligenciavam o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Fizemos vários amigos que compartilham das nossas ideias e, com o passar do tempo, vimos que várias pessoas não se preocupam com essa bagagem que nos torna profissionais. Dos dez posicionamentos radiológicos mais conhecidos, sete deles era a proteção radiológica que nos guiava pra um exame de qualidade. Para sermos sinceros, as outras três, também. Aprendemos o que era Tubo de Crookes, milisieverts, miligrays, kerma no ar e várias outras palavras que o Word tá sublinhando de vermelho, porque desconhece a importância das técnicas radiológicas em suas diversas áreas de atuação.

Nós não terminamos o relacionamento. Mas também não tem sido fácil. Choramos por ver prefeituras que ignoram a carga horária de 24 horas semanais, ausência de EPIs para trabalhar, equipamentos muitas vezes sucateados e o constante desrespeito a Portaria ANVISA nº 453/98 e a Norma Regulamentadora 32, que dispõe sobre segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde. Cadê a proteção radiológica? Nós sentimos falta e podemos fazer nossa parte para que ela esteja presente, denunciando as irregularidades e buscando nossos direitos.

Nesse ano, o Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (CONTER) criou a Comissão Nacional de Radioproteção e Dosimetria (CNRD), que trabalha em pesquisas e levantamentos técnicos sobre a questão. Os especialistas abrirão frentes de trabalho para sanar problemas como o excesso de exames preventivos que poderiam ser evitados e até mesmo a falta de controle das doses absorvidas pelos profissionais e pacientes. O caminho é longo, mas a ideia é que não falte nada de proteção aos indivíduos ocupacionalmente expostos.